sexta-feira, 17 de julho de 2009

Comparando Varig e GM

Envio texto escrito pelo meu sogro, que trabalhou por muitos anos na Varig:

"GM e Varig, duas empresas com histórico semelhante: grandiosas em seus dias de glória e decadentes na presente década. O imenso know-how em suas respectivas áreas de atividade, a importância de suas marcas e os aspectos sociais envolvidos justificava plenamente encontrar uma solução para a sobrevivência das duas empresas.

A tentativa de solução veio através do processo de “recuperação judicial” no Brasil e pelo capítulo 11 da Lei das Falências nos EU. As semelhanças terminaram ai. Em apenas 40 dias nasceu a Nova GM mais enxuta, com menos marcas, menos concessionárias, menos fábricas e menos empregados. Aqui, após meses de idas e vindas e de leilões onde se apresentaram somente investidores abutres, o processo de recuperação de Varig terminou melancolicamente com duas empresas: a Velha Varig, cheia de dividas e com somente um avião e a Nova Varig completamente desmantelada que hoje pertence a Gol.

Mas o que fez diferença mesmo foi a vontade política. Enquanto nos EU, país mais capitalista do mundo avesso à participação do Estado em qualquer atividade empresarial, o Governo injetou US$ 50 bilhões e tornou-se, temporariamente, dono da GM apostando na sua recuperação e no retorno do seu empréstimo, aqui a Varig não teve a mesma sorte e acabou desaparecendo."


Ivan Ribeiro dos Santos

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Quem quer ser um milionário.

Fui ver o filme meio a contragosto, por insistência de um amigo, que havia adorado. Minha resistência se devia à leitura de algumas críticas favoráveis publicadas nos jornais. Atualmente fica difícil ler alguma crítica realmente consistente nos meios de comunicação. O que de vê são textos num estilo coloquial-telegráfico-moderninho, em que não há qualquer opinião, ponto de vista, critério. Se for isto o que se ensina nas Faculdades de Comunicação, realmente é melhor não ter diploma. E se estas antas pós-modernas, que saem em série das faculdades e parecem ser todas uma só, tal a mediocridade pasteurizada dos seus textos, gostam de um filme, procuro manter uma distância higiênica.

No entanto, munido da maior boa-vontade, fui ao cinema. E comecei a detestar o filme logo nas primeiras cenas - cenas de tortura numa delegacia. É difícil transformar tamanha brutalidade em objeto estético. Mas o filme faz algo pior. As tais cenas (como, aliás, todo o filme) são realizadas com todos os tiques e truques de um filme publicitário – edição picotada, cores estouradas, closes nos rostos e corpos, ângulos inusitados de câmara, tudo isto como maneirismo, sem nenhuma função narrativa. O velho Hitchcock dizia que uma câmara dentro da geladeira é justificativa mais que suficiente para sair do cinema. Num bom filme, cada ângulo, cada movimento deve expressar alguma coisa.

Se a linguagem da publicidade e do videoclipe adotada pelo diretor serve para vender produtos, fetichizando-os (sejam eles pastas de dentes, sabonetes, carros esporte ou o novo astro da música pop), suspeitei que naquelas cenas o diretor estava vendendo a própria tortura. O diretor estava talvez tentando me fazer compartilhar com ele do gosto perverso de torturar o personagem! Um inglês que filma com prazer a tortura de um indiano, evitando sujar as próprias mãos – são outros indianos que aplicam a tortura!- ultrapassa largamente a mais depravada imaginação colonialista.

Mas eu estava enganado. A situação era pior. Pelo menos o torturador tem alguma convicção, se não de uma ideologia, pelo menos do seu gosto depravado. Aos poucos, com o passar do tempo, a perspectiva do diretor foi se tornando mais clara.

Toda obra de arte apresenta um determinado ponto de vista. Na obra de arte pura, o ponto de vista é estático, de contemplação da realidade. O artista convida o público a apreciar a obra de uma perspectiva neutra. Segundo James Joyce, as obras que não alcançam tal nível estético, as obras impuras, contaminadas pelo desejo de provocar uma reação, podem se dividir em 1) didáticas, se procuram despertar a aversão do expectador (por exemplo, as obras politicamente engajadas, que querem pregar lições de moral), ou 2) pornográficas, se buscam despertar o desejo (a publicidade, que tem por fim obrigar você a comprar o sabão em pó X em lugar dos concorrentes, os filmes de sexo, etc.).

Ao adotar a linguagem da publicidade, o filme se filia à corrente pornográfica – quer provocar o desejo do espectador por alguma coisa. Um crítico indiano falou em pornografia da miséria, mas me parece que não é propriamente a miséria que o filme vende, é algo pior.


Aliás, esta foi a impressão de todos nós que assistimos o filme naquele dia. O filme, como um peixe estragado, só vai piorando ao longo do tempo. É como se fossemos descobrindo, para usar uma imagem cara ao diretor, que por baixo da fossa infecta do seu trabalho houvesse uma fossa infinita, desprendendo um mau odor metafísico que contamina mesmo a lembrança. O melhor que o diretor poderia fazer, para o bem da Humanidade, seria reservar suas produções para seu vaso sanitário particular.


Que produto o diretor tenta vender? Seu próprio narcisismo – a visão entediada e cínica que um membro do clube dos moderninhos – cabelos raspados do lado e despenteados por horas diante do espelho, roupas descoladas, atitude blasé e cruel – tem, não da realidade, mas de si mesmo. É a pornografia do narcisismo, que provoca o prazer dos outros narcisistas que se reconhecem na absoluta indiferença pela vida mostrada na tela. Não importa torturar o personagem, cobri-lo de fezes – ali, nada importa, só mostrar a pseudo-estética publicitária dos “antenados”, que fazem gracinha com a miséria dos outros para espantar o tédio.


Não há nada mais provinciano que um cidadão do mundo. A riqueza de uma situação depende em grande parte da riqueza interior do contemplador. A pessoa que está à vontade em todo o mundo, e já não vê novidade em nada, é ela mesma um tédio, um vazio. Por isto o diretor filma na Índia e não vê nada da Índia – podia ter feito seu filme em qualquer outro lugar do mundo, onde existe miséria material (as favelas e o lixo que o diretor se compraz em mostrar) e miséria espiritual (na forma de programas de auditório).

Não é à toa que, como qualquer turista débil mental, quando quer dar uma cor local, o diretor vai ao Taj Mahal, não o Taj Mahal da história, da arquitetura, mas o Taj Mahal do cartão postal, da foto com que o viajante imbecil vai atormentar os amigos na volta da viagem. O diretor é o tal turista imbecil, e quer fazer de nós, pobre público, espectadores dos seus slides de viagem (um ritual de classe média felizmente extinto), exibindo com arrogância sua penúria intelectual. Porque somente um imbecil vai à Índia de tradições milenares e riquíssima história e se contenta com o Taj Mahal dos guias de turismo.

Num certo sentido, talvez o crítico indiano tenha razão. O filme é mesmo pornografia da miséria – da miséria intelectual do diretor, que exibe seu pobre narcisismo para o clubinho de moderninhos entediados e hipócritas.

O diretor, no seu exibicionismo, mostra-se totalmente indiferente ao destino dos personagens, que nunca se tornam reais por serem mostrados com a mais absoluta indiferença. Assim, não hesita em torturar e cobrir de fezes seu protagonista, não hesita em mostrar total falta de interesse pelas seqüelas da tortura (não há marcas psicológicas no torturado, que sai da delegacia cumprimentando os torturadores), não hesita em hipocritamente dizer que a saída da pobreza só é possível através de um milagre, que vai fazer de você um novo apresentador de televisão do terceiro mundo, mas que isso no fundo não faz nenhuma diferença. Aliás, nada faz diferença.

Alguns censuraram no filme as cenas de extrema violência. Ora, os entediados e blasés precisam de experiências sensoriais extremas para sentir alguma coisa. A necessidade do choque revela a anestesia da sensibilidade.

Outros comemoraram a trilha sonora pop, uma pobre imitação da música dos guetos negros norte-americanos, que poderia ter sido feita em qualquer lugar.

Alguns ainda elogiaram a aproximação com Bollywood. Bollywood, com raras exceções, é o lixo da produção cinematográfica indiana, o equivalente dos filmes da Xuxa, só que para adultos lesados intelectualmente.

Mas o mais espantoso é que algumas pessoas disseram que se tratava de um conto de fadas! Os contos de fadas, ao contrário do que se possa pensar, são de um absoluto realismo, transmitido através de recursos fantásticos. Como os heróis dos contos, também fomos chamados à aventura de viver, também devemos vencer desafios, também encontramos no caminho antagonistas e auxiliares, e, se bem sucedidos, trazemos as vantagens de nossas conquistas para a comunidade a que pertencemos. O filme na verdade é o inverso de um conto de fadas – no seu ultra-realismo tacanho se revela profundamente irrealista, porque não reflete o mundo e as pessoas, reflete a mente totalmente absorvida por si mesma do diretor, revela o seu narcisismo doente, que faz pouco da realidade psicológica do conto de fadas, piscando o olho para os outros narcísicos que no fundo não acreditam na possibilidade de milagres. Nada inesperado pode surgir num mundo que é ocupado totalmente por um ego gigantesco e vazio.

Se o leitor quiser ver uma verdadeira obra de arte, que adota uma perspectiva ocidental colonialista sobre a Índia, recomendo O Rio Sagrado, de Jean Renoir. Recomendo também a série de televisão O Mahabbharata, versão do grande épico hindu, dirigida por Peter Brook, com um interessante elenco multicultural. O filme me parece captar o espírito da cultura milenar indiana. Há também um bom cinema indiano, exemplificado pela Trilogia de Apu, do diretor Satyajit Ray.

terça-feira, 14 de julho de 2009




Está no JB de hoje: Há 40 anos, em 20 de julho de 1969, o homem deu o primeiro passo na lua.



Faz algum tempo li alguns trechos do livro de Buzz Aldrin, provavelmente "Magnificent Desolation - The Long Road Home from the Moon " publicados numa revista.



Dois trechos são, no mínimo, curiosos e controversos.



No primeiro deles, Aldrin rememora o momento exato em que deu a notícia da sua ida à Lua para sua esposa. Foi numa lavanderia. Ele pensou no inusitado da situação e quando estava por se culpar pela má escolha do local, a sua mente analítica e treinada retomou a conduta e retrucou: mas será que existe algum lugar adequado na Terra para dar uma notícia dessas!

Em outro momento do livro ele revela uma questão no mínimo perturbadora naqueles instantes que antecederam a missão. Por que escolheram Neil Armstrong para ser o primeiro homem na lua? A questão parecia envolta nos mais escabrosos componentes da corrida espacial americana.

Para ele a escolha poderia residir em alguma falha no seu treinamento... algum problema de temperamento... afinal, o que poderia fazer de Armstrong um ser mais qualificado do que ele?

De tanto se torturar com a questão, resolveu ir direto na fonte. Foi perguntar ao Chefe da Missão Apollo. Suas palavras devolveram a calma ao pobre Buzz e explicaram que o motivo de Armstrong ser o primeiro homem a pisar na lua, na realidade, foi decidido por uma questão meramente técnica. A disposição física do apertado módulo de descida - O Eagle - favorecia a abertura e descida pela escada, primeiro do comandante Armstrong, e depois, do piloto do módulo Aldrin.

Afinal, assim é a vida. Existem outras versões para esta mesma história. Prefiro acreditar nesta.

Muito se fala dessa conquista e dos dois astronautas americanos que pisaram na "magnífica desolação". Mas pouca coisa se diz de Michael Collins, o outro integrante que ficou orbitando com o módulo de comando enquanto o Eagle efetuava a descida e o pouso. Foram 48 minutos de silêncio rádio numa solidão em vôo solo só comparada a de Adão. Esse pra mim, não desmerecendo os outros, é claro, foi o herói da história.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Carta de intenções.

Caro amigo Duda,
Agradeço a você a oportunidade de participar deste blog. Se dependesse dos meus parcos conhecimentos de informática, nem estaria escrevendo neste computador, que também é resultado de sua ajuda de especialista. Enfim, chega de bajulação e vamos ao que interessa.

Espero usar este espaço de forma bastante livre, discorrendo sobre assuntos tão diversos como cinema, literatura, música clássica, artes plásticas, mitologia, religiões. Eventualmente, considero a possibilidade de incluir uma poesia ou um pequeno conto. Comentários sobre fatos do dia-a-dia também farão parte. E tantos assuntos quanto eu tiver vontade. Até mesmo psiquiatria e psicanálise. O até mesmo é por conta de que não quero aborrecer nem o leitor eventual nem meus amigos com uma exploração burocrática da minha profissão - somente idéias próprias, claras e interessantes devem ter lugar (obs: cultores da reforma ortográfica hão de me perdoar idéia com acento – para mim, idéias sem acento, como lâmpadas queimadas, não iluminam nada).

Talvez pareça redundante dizer que parto de um determinado ponto de vista. Acho necessário ser redundante porque no mundo atual pontos de vista parecem seguir o caminho dos dodôs e dos dinossauros. Assim, para fins de clareza, aí vai minha posição pessoal. Em primeiro lugar, adoto uma perspectiva anti-relativista. Mais uma aparente obviedade, que infelizmente escapa aos pós-modernos: sem algum referencial, é impossível emitir qualquer julgamento. Se, como querem Foucault e companhia, toda verdade é um discurso construído pelos detentores do poder, então a visão foucaldiana é também um discurso fabricado pelos poderosos dos meios universitários, principalmente brasileiros e franceses, que imitam o ilustríssimo filósofo careca.

Meu anti-relativismo é de base humanista – um humanismo radical que se pauta na luta diária que cada indivíduo deve empreender buscando a auto-superação, no sentido de um desenvolvimento moral que deve permanecer como meta até o fim da vida. Valores como solidariedade, respeito, amizade, confiança, verdade, bondade, beleza, sejam eles construções humanas ou reflexos de um mundo ideal ao modo de Platão ou da religião, fundamentam minhas posições.

Posições que ficarão mais claras quando eu parar de filosofar e começar a abordar questões mais concretas. A primeira, que prometi a você, meu caro Duda, é um comentário sobre o filme Quem quer ser um milionário, que tivemos a infelicidade de ver juntos. A companhia era boa, já o filme... Bem, há uma cena que para mim resume bem a essência do filme – a cena em que um menino mergulha no conteúdo de uma fossa, ficando coberto de excrementos. Curiosamente, um grande admirador do filme e do diretor, com quem tive oportunidade de conversar, também destacou esta cena como uma das mais importantes, e chegou a me dizer que mergulhos na merda são uma espécie de marca registrada do diretor. Enfim, há gosto para tudo. Antigamente a coprofilia estava incluída no grupo das perversões – hoje, faz sucesso nos cinemas.

Brincadeiras à parte (às vezes me pergunto se é possível fazer humor diante de um tal nível de mau gosto), tentarei ser objetivo. Espero ajudar algum leitor desavisado de se poupar de perder seu tempo com este filme. O comentário completo fica para a próxima.
Desculpem a prolixidade e o tom sério. Um abraço para todos.
Roberto.

Idéia fantástica

Pessoal, tive que me apropriar deste fantástico vídeo exibido no Blog do Pedrinho (NOP), post chamado Sound of Trains.



Incrível, não?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Da série - aculturação


Caros colegas blogueiros e demais leitores eis que surge o primeiro post.

Antes porém o meu cordial bom dia! / boa noite! / boa madruga! Aí que saco esta era da internet para este iniciante blogueiro. É melhor dar um oi geral, ou melhor, como diria meu pai: ' crick pra ôces!'

Sou daquelas figuras que já perderam umas milhas capilares no alto da cabeça. Careca tipo motel... duas entradas e uma cama redonda bem lá no meio.


Ou que acumularam (e continua acumulando) umas milhas adiposas na região central e que talvez tenham servido de inspiração ao Duda quando da divagação resultante para nomear este blog.


Ou... bem é melhor não descer mais não. Vamos ao motivo principal desta.


Da série aculturação brasileira no. 1 temos no cardápio hoje a seguinte pérola:


Quem viu nas bancas lembra, quem é rato de sebo já topou com ele em alguma prateleira empoeirada e quem é novo e não viu... é sempre bom lembrar.


Triste é o país que teve em circulação, encartado em um jornal de grande circulação pelo país, uma enciclopédia de auxílio à língua portuguesa denominada HELP.



Abraços a todos.
p.s. não tomo chopp com frequência não, prefiro um vinho de vez em quando... mas pode confiar, valeu!




domingo, 5 de julho de 2009

Sugestão de jogo - Fallout 3

Saudações,

Ainda aguardando ansioso (e sentado) que os preguiçosos, quer dizer, co-autores do blog postem, seguirei com as barbaridades usuais.

Hoje teremos um breve comentário sobre um grande jogo:

Fallout 3

Ando jogando o Fallout 3 - Trata-se do Oblivion em ambiente pós-apocalipse, com mutantes e gangues armadas até os dentes, ambientado em Washington DC, após uma guerra atômica entre EUA e China, se bem me lembro. O que me espantou foi que neste cenário a engine da Bethesda funcionou de forma muito mais adequada. Recomendo muito para jogos off-line. Destaque para os diferentes ângulos de visão quando se atira nos oponentes usando o VATS (sistema de auto-aquisição de alvos - tecla V). Fica demais - vejam exemplo abaixo:



Grande recomendação do Paulão! Aí garoto!!

Abs e beijos,

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Boas vindas


Amigos da boa escrita, do papo furado e da baderna generalizada. Do chopp na praia e do charuto na lareira. Este blog é para voces. Aqui despejaremos nossas barbaridades elocubrativas, comentários viajantes, análises e críticas de cinema e livros, e o que mais houver na cachola de todos. Eu mencionei jogos?? Siiiiim!!!

Participam desse blog, além desse que vos fala, Roberto e Márcio. Ambas criaturas de grande estatura bibliotecária, que gostam de um bom choppinho - nunca confiem em quem não bebe, eu sempre digo.

Aliás, se mais alguém se animar a nos impingir sua verborragia, sintam-se à vontade para fazê-lo. Basta me enviar o texto que o publicamos com os devidos créditos! :)

Abraços e beijos a todos, e sejam bem vindos.